sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Ginástica Laboral, LER/DORT, Ergonomia, Sedentarismo




A cidade de Barreiras, centro urbano regional, está localizada no oeste da Bahia a 853 km de Salvador e 622 km de Brasília. Com uma população de 131.849 (66.177, homens; 65.672, mulheres) habitantes distribuídos numa área de 11.979,5 km2, é um importante entroncamento rodoviário entre o Norte, Nordeste, e Centro Oeste do país. É uma cidade de porte médio, com atividades comercial e agro-industrial em pleno desenvolvimento. O município se consolidou como principal pólo produtor da região. A intensa atividade agrícola, com circulação de capital e tecnologia de ponta, criou reflexos em praticamente todos os setores da atividade econômica e social.

A FASB -Faculdade São Francisco de Barreiras está localizada há 10 Km do centro da cidade, além da absorção de expressiva parcela de estudantes Barreirenses, possui acadêmicos dos mais diversos lugares do país: Distrito Federal, Goiânia, Piauí, Pernambuco, Alagoas, Minas Gerais e Paraná, além de acadêmicos vindos de mais de 26 cidades da Bahia.Neste contexto, somam-se em média 2.187 alunos numa sede própria com conforto e uma série de recursos tecnológicos para proporcionar o melhor aprendizado. A inserção da FASB no contexto sócio-econômico que caracteriza a região Oeste, parte de uma filosofia educacional que lhe possibilite desenvolver proposta pedagógica consciente, além de apta a contemplar, em seu processo de ensino/aprendizagem superior e de pesquisa acadêmica, um empenho diferenciado na formação para a cidadania.

Com a evolução da tecnologia e a tendência cada vez maior de substituição das atividades ocupacionais que demandam acentuado gasto energético por facilidades automatizadas, o ser humano adota cada vez mais a lei do menor esforço reduzindo, assim, o consumo energético de seu corpo (Matsudo et al 2001). Dentre as conseqüências de uma vida sedentária está o stress, obesidade, hipertensão arterial, distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT'S), entre outros.

Há, também, uma íntima relação das lesões de origem ocupacional que atingem as extremidades, Lesões por esforços repetitivos (L.E.R.) e os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT'S) com a inadequação do ser humano às atividades que realiza, sejam elas no ambiente esportivo ou trabalhista (Lida, 1998; O`Neill, 2004). Essa questão se fortalece se levarmos em conta que o homem passa quase três/quartos de sua vida trabalhando, e que as exigências da produtividade somam-se a muitas condições de trabalho desfavoráveis. Dos distúrbios dolorosos que afetam a humanidade, a dor lombar (lombalgia ou dor na coluna lombar) é a grande causadora de morbidade e incapacidade para o trabalho, só perdendo para a cefaléia que afeta mais os homens do que as mulheres (Codo e Almeida, 1995). Aos 30 anos de idade, inicia-se um processo de dessecação progressiva dos discos da coluna vertebral, que sofrem maior risco de rompimento e protusão, por perda de elasticidade e resistência. Hérnia de disco e "bico de papagaio" são doenças comuns da coluna lesada.

Para Nascimento, 2000 e Cox, 2002 a postura no desenrolar de tarefas pesadas é a principal causa de problemas de coluna, mais precisamente na hora de levantar, transportar e depositar cargas, ocasião em que os trabalhadores mantêm as pernas retas e "dobram" a coluna vertebral. Pode ocorrer também outro movimento perigoso, o giro do tronco, quando a carga for pega ou depositada mais para o lado e não necessariamente à sua frente. Projetos inadequados de máquinas, assentos ou bancadas de trabalho obrigam o trabalhador a usar posturas inadequadas que, mantidas por muito tempo, podem provocar fortes dores localizadas naquele conjunto de músculos solicitados para a conservação da postura (Codo, 1995).

As condições psicossociais, os usos incorretos de mobiliário e equipamento desconfortáveis são também apontados como responsáveis pelo aumento dos casos de DORT'S, mas esta análise estaria incompleta se deixássemos de lado o fator tensão excessiva, que costuma ser um fator contributivo presente em praticamente todas as situações que temos visto na atividade profissional.

O objetivo fundamental do plano de tratamento fisioterapêutico é eliminar ou minimizar a intensidade dos fatores físicos que causaram ou agravaram a L.E.R., pois uma vez eliminados, dão lugar ao processo natural de recuperação do organismo. Envolve uma combinação de métodos conservadores, como medicamentos e terapia física, esta requer a educação do doente quanto às posturas a serem adotadas tanto nas atividades de trabalho como nas de não-trabalho (Luduvig, 1996 apud Deliberato 2002). Além da imobilização e repouso, pode-se também lançar mão do uso do calor e do gelo para alívio da dor; e da compressão e elevação para melhor drenar o edema local, quando este se fizer presente.

Entretanto, podem ser utilizados outros métodos de tratamento fisioterápico, sendo que a finalidade sempre será de reduzir a dor, o edema e a inflamação, que proporciona assim uma situação em que se possa normalizar a força muscular e o retorno às atividades, quando possível (Codo e Almeida, 1998). Especificamente quanto à acupuntura, este método proporciona resultados favoráveis no alívio da dor, e seu uso pode fazer parte do conjunto de medidas de tratamento. Além disso, técnicas de relaxamento e reeducação postural global estão sendo empregadas com sucesso para tratar e prevenir.

Nesta perspectiva, surgiu a ginástica laboral. Concebida como um método utilizado nas empresas, de pouca duração, com prática de movimentos de alongamento e relaxamento, é de grande valor no desempenho das ocupações dos funcionários, com mais empenho e eficiência.

Definida por alguns autores como ginástica destinada a trabalhadores, uma sessão de ginástica laboral visa dar a oportunidade aos trabalhadores executarem séries de exercícios com restrito espaço de tempo, com o objetivo de prepará-lo para a jornada de trabalho, relaxa-los após o expediente  e compensar a musculatura antagonista  exigida.

Sobre a história da Ginástica Laboral, a primeira notícia que se encontra é uma pequena resenha editada na POLÔNIA em 1925, onde foi chamada também de Ginástica de Pausa, era destinada a operários e alguns anos depois, surgiu na Holanda e Rússia. No Início dos anos 60 surgiu também na Bulgária, Alemanha, Suécia e Bélgica. No Japão, na década de 60 ocorreu a consolidação e a obrigatoriedade da G.L.C. : Ginástica Laboral Compensatória (Oliveira Martins, 2001).

No Brasil, o esforço pioneiro residiu numa proposta de exercícios baseados em análises biomecânicas. Esta proposta foi estabelecida pela escola de Educação de FEEVALE no ano de 1973, quando se elaborou o projeto de Educação Física Compensatória e Recreação (Oliveira Martins, 2001) não foi encontrado material de continuidade deste trabalho.O principal objetivo é preparar o corpo para trabalhar e prevenir o aparecimento de lesões músculo-ligamentares (para que não sejam necessárias as técnicas de tratamento acima citadas) a reduzir os acidentes de trabalho causados pelos movimentos repetitivos e posturas inadequadas, a diminuir o absenteísmo e custos com atestados médicos, minimizar custos trabalhistas e melhorar a imagem da empresa no que se refere a qualidade de vida (Peres et al 2000). A maioria dos exercícios tenta diminuir o efeito da solicitação constante a que é submetido um trabalhador ao executar determinada tarefa, seja ela uma tarefa física ou psiquíca.

Enfermidades como: lombalgias, tenossinovites, tendinites, sinovites, cervicalgias, epicondilite, síndrome do túnel do carpo, síndrome de Quervaín, peritendinite em particular de ombros, cotovelos, punhos e mãos, dedo em gatilho, cistos, síndrome do pronador redondo, síndrome do desfiladeiro torácico, síndrome cervical ou radiculopatia cervical, neurite digital, são apenas algumas das afecções músculo- esqueléticas mais comuns em trabalhadores com DORT (Deliberato, 2002). Essas patologias estão surgindo em proporções alarmantes, especialmente em alguns setores ocupacionais ("braçais"), o que tem elevado o interesse por questões associadas à saúde do trabalhador.

Este interesse está fundamentado no aumento de despesas médicas, hospitalares, faltas no trabalho, absenteísmo, aposentadorias precoces, que refletem significativamente na qualidade de vida do trabalhador e na produtividade (Codo e Almeida, 1998). O presente estudo visa verificar a incidência de sedentarismo entre os funcionários da Faculdade São Francisco de Barreiras e sua relação com posturas inadequadas diante do trabalho, bem como máquinas e móveis posicionados de forma inadequada para o trabalhador e, enfatiza a ginástica laboral como alternativa preventiva para possíveis lesões. Os programas de qualidade de vida, não devem incluir apenas a prática regular de exercícios durante a jornada de trabalho, pois a obtenção de resultados mais significativos, tanto no nível coletivo como no individual, é obtido de modo mais eficaz quando esses exercícios são acompanhados por análises ergonômicas, antropométricas, posturais e biomecânicas.

O objetivo principal desse estudo consistiu na realização, através da revisão bibliográfica, de uma análise a respeito da prática de exercícios e alongamentos durante o turno de trabalho, com enfoque especial sobre os efeitos orgânicos na saúde do trabalhador. Acreditamos que tal objetivo tenha sido atingido, do mesmo modo como também acredito que a realização do presente trabalho contribuirá de forma significativa para a consolidação do aprendizado científico e prático sobre o tema Ginástica Laboral e saúde do trabalhador.

METODOLOGIA E CASUÍSTICA

Foram entrevistados 30 funcionários de ambos os sexos em uma instituição de nível superior (FASB), sorteados aleatoriamente. O instrumento foi elaborado com perguntas referentes a dados sócio-demográficos, sobre sedentarismo e satisfação em realizar atividades físicas no trabalho.

Antes do inicio da pesquisa foi estabelecido aos participantes o livre arbítrio e objetivo deste trabalho. Toda a pesquisa foi aplicada em horário e local pré-definidos pelos participantes com o pesquisador sentado ao lado do entrevistados perguntando a ele pausadamente quantas vezes fossem necessárias.

A PESQUISA TEVE DUAS ETAPAS

A) A primeira em março de 2005 com a aplicação do questionário adaptado de khouri, Amando e Perez (2004), denominado "Questionário de Sintomas e de Aspectos da Organização do Trabalho".

B) Posteriormente em outubro do ano de 2005 foi aplicado o Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ) desenvolvido pela OMS, validado no Brasil por Matsudo et al. (2001).

Nas duas etapas foram selecionadas aleatoriamente, 30 indivíduos  de ambos os sexos, com idade ente 25 e 60 anos, nos setores da Faculdade escolhidos aleatoriamente. A escolha para a entrevista da primeira etapa baseou-se inicialmente para traçar um perfil diagnóstico geral do comportamento dos funcionários com relação ao trabalho e foram entrevistados indivíduos de todos os setores da faculdade, sem distinção. Já na segunda etapa foram entrevistados setores mais específicos, para tanto, os setores como: Biblioteca, Departamento Financeiro, Coordenação de Fisioterapia, COPEX (Coordenação de Pesquisa e Extensão), Setor administrativo, Direção acadêmica, Secretaria acadêmica e Segurança foram solicitados a responder questões contendo perguntas sobre atividades que realizavam no trabalho, em domicílio, transporte e atividades físicas supervisionadas e uma pergunta relativa a dores em articulações específicas do corpo humano (joelho, ombro, tornozelo, punho, falanges, coluna, quadril), com vocabulário claro, objetivo, preciso. A linguagem era acessível e as perguntas foram classificadas ( Matsudo et al 2001 ) como:

  • GERAIS: sexo, idade, ocupação, entre outras;
  • ESPECÍFICAS: Quantos dias na semana anda por pelo menos 30mim como meio de locomoção? Quantos dias de uma semana normal você faz atividades moderadas, por pelo menos 10 minutos contínuos, como carregar pesos leves como parte do seu trabalho?  Em quantos dias de uma semana normal você faz atividades físicas vigorosas no jardim ou quintal por pelo menos 10 minutos como carpir, lavar o quintal, esfregar o chão? Em quantos dias de uma semana normal, você faz atividades moderadas no seu tempo livre  por pelo menos 10 minutos,  como pedalar ou nadar a velocidade regular, jogar bola, vôlei, basquete, tênis? Quanto tempo passa sentada em seu ambiente de trabalho?Entre outras.Todas as questões tinham notas explicativas sobre atividades físicas VIGOROSAS ( aquelas que precisam de um grande esforço para respirar MUITO mais forte que o normal) e atividades físicas MODERADAS (aquelas que precisam de algum esforço físico e que faz respirar UM POUCO mais forte que o normal) segundo Matsudo et al 2001.

Os funcionários assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido aceitando participar da pesquisa de acordo com as Diretrizes Nacionais e Internacionais para a Pesquisa em Seres Humanos do Conselho para Organização Internacional de Ciências Médicas (CIMS) e da resolução n 196/96 do Conselho nacional de Saúde (Brasil, 1996). A pesquisa foi realizada através dos questionários acima citados servindo de instrumento de coleta de dados. Os dados foram analisados de acordo com a classificação de nível de atividade física estabelecida pelo IPAQ. Para analisar os dados do nível de atividade física foi usado o consenso realizado entre o CELAFISCS e o Center for Disease Control (CDC) de Atlanta em 2002, citado por Matsudo et al. (2002), considerando os critérios de freqüência e duração, que classificaram as pessoas em cinco categorias: muito ativo, ativo, irregularmente ativo e sedentário segundo Matsudo et al. (1999).

RESULTADOS

Os resultados obtidos pelo questionário denominado: "Questionário de Sinais e Sintomas do Trabalho" em Março de 2005 demonstrou que cerca de 70% era do sexo feminino, com média de idade de 28,45 anos, 70 % não realizavam nenhum tipo de atividade física.

Observe os gráficos 1 e 2 abaixo, o qual  demonstra que dos entrevistados 73% disseram sentir-se cansado no final do expediente, quando foi sugerido  que os entrevistados  estabelecessem uma nota de 0 a 10 a maioria dos funcionários estabeleceu nota 8 para a sensação de cansaço no final do expediente. Isso demonstra uma predisposição ao mau posicionamento dos membros diante do maquinário, bem como estresse que  leva à tensões musculares (Deliberato, 2002). Quando perguntado se a prática de atividade física melhoraria seu desempenho profissional, 100% dos entrevistados relataram que sim.

Gráfico 1: Sensação de cansaço ao final do expediente entre os funcionários da FASB. Barreiras, 2005

 

Gráfico 2- Nota estabelecida entre os funcionários da FASB com relação ao cansaço sentido no final do expediente. Barreiras, 2005

 

No Gráfico 3 abaixo pode-se observar que 70 % não realizavam nenhum tipo de atividade física para promoção da saúde isto demonstra uma falta de prevenção contra doenças osteo-musculares e cardiovasculares,bem com estresse e baixa produtividade (Deliberato, 2002).

Gráfico 3- Prática regular de atividade física entre os funcionários da FASB. Barreiras, 2005

 

Observe o Gráfico 4 abaixo referência se a prática de atividade física melhoraria seu desempenho profissional, 100% dos entrevistados relataram que sim.Isso demonstra uma prontidão à prática de atividades físicas regulares e conhecimento sobre seus benefícios tanto para empresa quanto para o funcionário (Deliberato, 2002).

Gráfico 4: Descrição se o funcionário da FASB gostaria ou não de realizar atividade física durante seu turno de trabalho. Barreiras, 2005

 

Em novembro de 2005 foi aplicado o IPAQ, em 30 funcionários, com idade 30 a 45 anos. Dos entrevistados, 70 %  eram Insuficiente ativos no trabalho (menos 150 minutos semanais em atividades moderadas segundo Matsudo et al. 2002), 59% são ATIVOS em ATIVIDADES DOMÉSTICAS, ou seja, realizam atividades moderadas e de grande esforço em seus domicílios, 3 vezes por semana,150 mim (Matsudo et al. 2002). 90% disseram ser insuficientes ativos na locomoção e apenas 10% andam de bicicleta 3 vezes na semana, 77% caminham de 3 a 7 dias (menos de 150 mim semanais, Matsudo et al. 2002).

Em atividades destinadas à promoção da saúde no tempo livre, 58% se disseram sedentários, ou seja, não realizam caminhadas no tempo livre, 53% se disseram sedentários no esporte, ou seja, não praticam esporte e apenas 15% foram considerados ativos (Matsudo et al. 2002) ou seja, fazem atividade  supervisionadas 3 vezes por semana (T=150min); 48% nunca praticou atividade supervisionada , apenas 14% praticam e são ativos. ( Matsudo et al. 2002).Observe abaixo:

Tabela 1-Incidência de sedentarismo no esporte, atividades supervisionadas e dores  entre 20 entrevistados, funcionários da FASB.Barreiras, 2005

Variável

   Incidência (%)

Classificação

 

 Homens

Mulheres

52,0%

48,0%

 

 

Trabalho

70,0%

insuficiente

- de150 min semanais em atividades  moderadas

Atividades Domésticas

59,0%

Ativos

 

Locomoção
      1. Anda de Bicicleta
      2. Caminhada Leve

90,0%
10,0%

77,0%

Insuficiente
Ativos

Insuficiente

Menos de 150 min/ semanais

Lazer/promoção da saúde

58,0%
15%

Sedentários 
Ativos                  

Não realiza atividades
Realizam 3 vezes por semana

       1. Esporte

53,0%

Sedentários

 

 

       2. Atividades         Supervisionadas

 

 

48,0%
 
14,0%

 

Nunca  praticaram

Praticam atualmente

 

Fonte:IPAQ

Diante do exposto, observa-se que os indivíduos se mostraram insuficiente ativos nas suas atividades do trabalho (secretários, digitadores, atendentes, professores, diretores, seguranças) ou seja, não realizam atividades que exigem um  grau de esforço maior que em repouso. (Matsudo et.al. 2001).

Já em outra coluna, pode-se perceber-se ainda que 59,0% são ativos nas atividades domésticas e 90,0% insuficiente ativos nas atividades como meio de transporte, apresentando-se sedentários também no lazer, não realizando atividades regulares para a promoção da saúde e prevenção de doenças e apenas 15% são ativos nesta classificação.

Observa-se na tabela 2 abaixo, que com relação à dor, 100%  do entrevistados  revelaram que as vezes sentem, destes 29% relataram dor joelho, 26% no quadril, 19% em ombro e 26% disseram sentir dor em punho, tornozelo, coluna e  falanges. Foi refletido diante da incidência que devido às condições ergonômicas do ambiente de trabalho, os funcionários adotam hábitos incorretos de postura e que o mobiliário não é o mais adequado. As cadeiras possuem encostos, porém, não estavam reguladas de acordo com a estatura dos funcionários e não havia suporte para os pés em todos os locais de trabalho,entre outros.Todas essas condições nos leva a concluir a segunda etiologia (causa) de suas dores, já que a primeira pode vir do sedentarismo (Matsudo, 2001).

Tabela 2:Sintomas em articulações específicas do corpo humano (Smith  et. al. 1997)

3.DOR
100%
As vezes sentem


Joelho
Quadril
Ombro
P,T,C,F


29%
26%
19%
26%

 

Fonte: Adaptado de Khouri, Amando e Perez (2004).

 

Ao analisar as condições ergonômicas do ambiente de trabalho,  observou-se que os funcionários utilizam hábitos incorretos de postura e que o mobiliário não é o mais adequado. As cadeiras possuem encostos, porém, não estavam reguladas de acordo com a estatura dos funcionários pois  não havia suporte para os pés em todos os locais de trabalho.

DISCUSSÃO

Os entrevistados apresentaram um índice de sedentarismo, principalmente na  promoção da saúde e atividades supervisionadas já que apenas 14 % desenvolvem atividades  semanais.

No que diz respeito ao sedentarismo fora do lazer, ou seja, no trabalho, domicílio e transporte e locomoção, Oldridge et al (1983), apud Matsudo, 2001 apontam o sedentarismo no trabalho, ocupações de leve ou muito leve intensidade, como um importante fator para a adoção de hábitos sedentários também durante o lazer, fato este agravado pelo processo de industrialização e mecanização da sociedade, que têm eliminado a necessidade de esforço físico no quotidiano da maioria da população. É o que se observa com a maioria dos entrevistados da FASB, que trabalham nos setores administrativos (coordenação de cursos, financeiro, biblioteca, secretaria acadêmica, direção acadêmica), em postura sentada diante do computador, uma média de 8 a 12 horas diárias.

O sedentarismo, aliado ao uso prolongado de computadores e games, pode trazer complicações ortopédicas e reumatológicas à crianças semelhantes a distúrbios adultos como LER / Dort (lesões por esforços repetitivos/distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho).Os funcionários são usuários de computadores e estes não estão adequados à mediadas antropométricas  que, associada ao sedentarismo  podendo ocasionar dores durante a jornada de trabalho e ao final do expediente.

Uma pesquisa feita no serviço de Fisioterapia do Campus "Luis de Queiroz" em Piracicaba -SP, entre os anos de 1997 a 1999,  verificou-se que das 982 pessoas atendidas neste serviço, 107 foram de alunos da pós - graduação ( ESALQ e CENA) ou seja, 11% dos atendimentos. O gráfico abaixo mostra as disfunções e alterações tratadas:

Fonte:http://www.wgate.com.br/conteudo/medicinaesaude/fisioterapia/alternativa/analise_ergonomica/analise_ergonomica.htm.Acesso dezembro 2005

Dentre as dores na coluna o gráfico abaixo demonstra quais as regiões mais afetadas :

Fonte:http://www.wgate.com.br/conteudo/medicinaesaude/fisioterapia/alternativa/analise_ergonomica/analise_ergonomica.htm.Acesso dezembro 2005

A coluna vertebral, especialmente a região lombar  e cervical foi diagnosticada através desta pesquisa e outras nos últimos anos, como sendo a região mais afetada entre os pós-graduandos acima mencionados, seguida de entorses de tornozelo e joelho. O fato mais importante para se destacar é que das 132 disfunções e alterações tratadas pela Fisioterapia, 53 ( 40%) se referem a algias (dores) na coluna vertebral de origem ocupacional.

Nossa pesquisa na FASB relata que 67% dos funcionários dizem sentir dores em : joelho  (29%), quadril ( 26%), ombro (19%), 26% entre: coluna, punho, tornozelo e falanges. Sabe-se que estas dores  ou distúrbios podem estar relacionados ao trabalho ou à outras atividades realizadas, numa relação originária ou desencadeadora. (Codo e Almeida, 1998). Atualmente em nossa sociedade, existe uma preocupação emergente na organização do trabalho  e  muitas empresas estão se estruturando   para gerar   benefícios a valorizar  o ser  humano como um todo. No mundo do trabalho isso se evidencia, já que a produtividade e êxito são sinônimos de bem estar de todo trabalhador (Oliveira Martins,2001). Diante disto, muito se tem investido, tanto em equipamentos  bem como no preparo físico e psicológico dos funcionários.

Perante a literatura pesquisada, verificamos que a Ginástica não se constitui uma atividade de risco para as pessoas e atua de forma preventiva para os riscos de lesões em ambientes com pouca orientação ergonômica. A hidroginástica, caminhada, natação e outras atividades de características predominantemente aeróbias, são as atividades priorizadas e normalmente recomendadas para perda de calorias. No entanto, verificamos também que a ginástica, quando ambientada em um contexto recreativo e com prescrições adequadas de cargas, pode proporcionar importantes benefícios para pontos dolorosos possivelmente decorrentes da má postura e pelos movimentos repetitivos impostos pelas atividades profissionais. A fisioterapia através de alongamentos e cinesioterapia, associado a períodos de pausa e orientações posturais serão de grande valia para aliviar o quadro álgico e obter uma melhor qualidade de vida a esses funcionários.

 
Diante do exposto, a Ginástica Laboral  pode ser definido como um conjunto de atividades físicas destinadas a trabalhadores, que a partir de uma análise e avaliação  ergonômica-laboral é estabelecido um programa de atividade física de grupo tendo por objetivo  possibilitar o funcionário executar suas atividades laborativas com mais qualidade e disposição, visando também  a  prevenção de LER/DORT, esse programa de atividade física inclui: exercícios de compensação muscular, exercícios de flexibilidade, técnicas de relaxamento, alongamento, e também periódicas atividades lúdicas que visam a integração entre funcionários (Oliveira Martins,2001 ).
 
Poucos estudos são publicados sobre ginástica laboral, por este motivo se trabalha com programas específicos dentre a periodização do treinamento de valências físicas que auxiliem os funcionários em suas atividades laborais.
 
Desse modo, os trabalhadores que utilizam seus músculos para manejar instrumentos, ferramentas ou produtos podem ser beneficiados por um programa de atividades para trabalhadores braçais (Nascimento e Moraes 2000). Por exemplo, trabalhadores em uma linha de montagem de uma fábrica necessitam de exercícios específicos para os grupos musculares utilizados excessivamente.O músculo supra-espinhoso, um dos músculos do grupo manguito rotador (Smith  et al 1997), localizado no ombro, é freqüentemente solicitado na abdução ,abertura lateral do braço,  e seu tendão pode ser comprimido se essa abertura ultrapassar mais que 90°, ou seja, se o braço elavar-se além do ombro.

Para que isto não ocorra, deve ser evitado a repetição desse movimento,o músculo deve ser fortalecido e alongado freqüentemente  para que não ocorra lesão muscular por superutilização, similar, por exemplo, à lesão de um atleta ao final de uma competição extrema. Afinal, a jornada de trabalho pode durar até mais de 10 horas, às vezes. Por outro lado, trabalhadores administrativos como digitadores, secretárias, atendentes, etc. são acometidos de problemas posturais, musculares ou visuais. Assim, um bom programa de atividades para trabalhadores da FASB , que têm este perfil, ajudará a diminuir os riscos de  lesões por fatores ergonômicos agravantes, aliado ao sedentarismo entre os funcionários.
A Ginástica Laboral interfere de forma extremamente positiva para os trabalhadores, tanto individual quanto coletivamente no processo geral da empresa.Antes de ser realizada a prescrição desta atividade, um parecer ergonômico  deve ser  executado  e neste consta dados observados que indicam  ou não fatores de risco para a ocorrência de LER/DORT.

Por ser fator de análise ergonômica profissional, o Fisioterapeuta-Avaliador fica isento pela identificação, sua tarefa é apenas de apontar se há ou não o fator. Ex.: Existe fator ergonômico que deve ser reavaliado referente aos acentos e mesa do setor de  digitação. (Peres et al 2000).

Todos estes dados serão observados no ambiente de trabalho com acompanhamento de Fisioterapeutas que auxiliem na informação necessária para que poça ser emitido um relatório e análise técnica com a recomendação do programa de Ginástica Laboral.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A prevenção é a primeira atribuição da Fisioterapia. Nesse caso, é fundamental o trabalho de conscientização, ou seja, a tarefa de alertar e orientar o paciente sobre a necessidade de adotar procedimentos adequados em certas situações.

Diante da pesquisa e estudos acadêmicos percebe-se que é possível prevenir  qualquer tipo de lesões em qualquer tipo de trabalho  baseando-se nos princípios  de que  a jornada de trabalho deve ser planejada de forma compatível com o ritmo de seu corpo, estabelecendo períodos de pausa com o intuito de evitar a sobrecarga músculo-esquelética (Magee , 2005) e a fadiga mental.
Por fim, observa-se que os funcionários possuíam uma vida sedentária, porém estavam cientes  que esta atitude poderiam desencadear os distúrbios ocupacionais como: dores articulares, estress, indisposição ao trabalho.Foi notável a disposição dos mesmos para a prática da Ginástica Laboral no ambiente de trabalho caso fosse oferecido pela instituição.

DICAS E SUGESTÕES

Na biomecânica postural, considerações ergonômicas articulares devem ser levados em conta na realização de qualquer tipo de tarefa seja no ambiente de trabalho ou domiciliar, por exemplo:ao pegar objetos no chão, agachar-se dobrando os joelhos mantendo a coluna reta e ao carregar peso mantenha os braços estendidos e próximos ao seu corpo (Viel et al., 2000). 

Para manter uma postura correta do corpo durante a jornada de trabalho deve-se evitar esforços excessivos e desnecessários tais como, empurrar ou puxar gavetas "emperradas"; digitar, escrever, grampear e carimbar com muita força, seguindo um período de pausa.

 As posturas incorretas devem ser evitadas como inclinar o corpo sobre a mesa de trabalho quando estiver de pé ou sentado, evitar cruzar as pernas quando estiver sentado, pois dificulta a circulação, não manter os ombros elevados acima da cabeça por muito tempo. 

Os cotovelos devem ficar na altura da mesa de trabalho quando for digitar e evitar sentar-se com rotação de tronco sem apoio na região lombar (Viel et al.,2000). Se o funcionário trabalha na postura sentada, colocar as atividades a sua frente e não ao seu lado; não trabalhar com sapatos com saltos altos pois eles podem provocar dores e encurtamentos.
Procurar utilizar sempre, um apoio adequado à sua altura ou ajuste a sua cadeira;  não sentar em cadeiras muito altas ou muito baixas não devendo ainda permanecer em uma mesma postura por longos períodos. Procurar levantar-se de tempos em tempos e não manusear objetos em prateleiras altas se necessário, utilizar uma escada segura e adequada.O alongamento e a aplicação da Ginástica Laboral na musculatura deve ser monitorado por um profissional especializado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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13.MATSUDO, V. K. R. Vida ativa para o novo milênio. Revista Oxidologia, p.18-24, set/out,1999.
14.SMITH, Laura K.WEIS Elisabet L.,LEHMKUHL L. Cinesiologia Clica de  Brunnstrom.4ªed.São Paulo:Manole,1997.
15.VIEL, E., ESMARET M. Lombalgia e Cervicalgia da postura sentada.Conselhos e Exercícios.1ª ed, São Paulo: Manole, 2000.
16. COX, JAMES M.,D.C,D.AC. Dor lombar.Mecanismo, diagnóstico e tratamento.6ª ed, Barueri-SP: Manole, 2002.
17.MAGEE, David J.,PH.D,B.PT. Avaliação Muscoloesqulética. 4ª ed, Barueri-SP: Manole, 2005.

Autor(a): Rita Viviane Branco Barbosa
Orientador(a): Luciane Jóia

Autor(es):
Rita Viviane Branco Barbosa(1); Luciane Jóia(2)
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  • sábado, 11 de fevereiro de 2012

    Artigo: Ginástica Laboral ou Cinesioterapia laboral: Uma Ferramenta para a Melhoria da qualidade de vida do Trabalhador





    Nos últimos 30 anos, temos assistido a um progressivo e crescente número de Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho, as famosas DORT's. Uma síndrome com grandes extensões sociais e econômicas que refletem diretamente na vida do trabalhador e da empresa devido à incapacidade do funcionário em desenvolver plenamente suas atividades além de gerar custos significativos as empresas e organizações estaduais.

    Na prática empresarial a Ginástica Laboral vem crescendo e ganhando o mercado devido aos objetivos que se propõem, embora algumas vezes não os alcançando plenamente, podendo ser este o motivo do descrédito por alguns empresários; porém podemos apontar alguns fatores que podem estar influenciando para o insucesso da chegada a esses objetivos.

    DORT NO BRASIL E NO MUNDO

    Com o avanço da evolução industrial tivemos o aparecimento das conhecidas LER/DORT's (Lesão por Esforço Repetitivo/Distúrbio Osteomusculares Relacionados ao Trabalho), uma síndrome com grande peso social e econômico que veio preocupando os empresários de todo o mundo, devido ao alto índice de afastamento do trabalho, diminuição da produtividade e incapacidade laborativa do trabalhador além de gerar custos significativos as empresas e organizações estaduais.

    Neste artigo nos remeteremos ao termo DORT e não LER, pois a DORT pode ser uma LER, mas o contrário não funciona da mesma forma, nem toda LER é uma DORT, pois pode-se desenvolver uma Lesão por Repetição sem ser do trabalho específicamente.

    Entende-se por DORT uma síndrome relacionada ao trabalho caracterizada pela ocorrência de vários sintomas concomitantes ou não, tais como: dor, parestesia, sensação de peso, fadiga de aparecimento insidioso geralmente nos membros superiores mas podendo acontecer em membros inferiores. Um ambiente de trabalho sujeito a riscos pode provocar surdez, algias, doenças respiratórias e do sistema muscoesquelético. Tal fato é de extrema preocupação, pois atinge o indivíduo em seu período de maior produção, limitando o crescimento tanto do homem quanto da empresa1,2 .

    As DORT´s são processos inflamatórios agudos ou crônicos atingindo tendões (tendinites), bainhas (tenossinovites), músculos, sinóvias e nervos periférico, o que deve diferir dos processos inflamatórios secundários provenientes de outras patologias como reumatismo, esclerose sistêmica, gota, infecções gonocócicas traumáticas, osteartrite entre outras, por isso o diagnóstico de uma DORT deve ser criterioso2 .

    Segundo o Ministério da Saúde, estatisticamente, os tendões mais freqüentemente acometidos são os das mãos, punho, cabeça longa dos bíceps e supra espinhoso, havendo predomínio em termo de 65% de que o lado afetado correspondesse ao dominante, o que leva a incapacidade laborativa e desgaste tanto para a empresa quanto para o trabalhador3.

    As causas das DORT's são apontadas por diversos pesquisadores como um conjunto de fatores físicos e organizacionais do trabalho que, combinados, possibilitam o surgimento da síndrome. Dentre esses fatores, são citados: pressão psicológica, posturas inadequadas, natureza e repetitividade de movimentos e aplicação de forças, que podem influenciar diretamente no sistema músculo-esquelético do trabalhador. Os fatores causais indiretos relacionam-se ao conteúdo das atividades e à qualidade da comunicação, períodos prolongados de trabalho, ausência de pausas, não rotatividade de tarefas e fatores emocionais, tais como o estresse, pressão pela produção e o relacionamento entre chefias e funcionários4; 5.

    Sendo assim, a sobrecarga pode ocorrer, tanto pela utilização excessiva de determinados grupos musculares em movimento repetitivos com ou sem exigência de esforços localizados, seja pela permanência de segmentos do corpo em determinadas posições por tempo prolongado ou resistência das estruturas musculoesqueléticas contra a gravidade sem a falta de tempo para a recuperação dessas estruturas solicitadas.

    O desenvolvimento da DORT é multicausal, sendo importante levar em consideração os fatores diretos e indiretos. Os fatores de riscos não são analisados sozinhos, pois deve existir integração entre eles e o ambiente de trabalho. Não é o objetivo desse trabalho o detalhamento da análise dos fatores de riscos, no entanto conheceremos superficialmente quais são eles: frio excessivo, adequação do posto de trabalho e sua zona de conforto, vibrações por máquinas e equipamentos, compressão local dos tecidos, posturas inadequadas e limite excessivo de amplitude articular, força da gravidade oferecendo uma carga suplementar sobre a articulação e músculos,carga osteomuscular, contração estática, invariabilidade da tarefa, exigências cognitivas e pressão profissional, não devemos deixar de levar em consideração a região anatômica exposta a tais fatores de riscos1,2.

    De acordo com dados da Previdência Social, com relação às doenças ocupacionais, o número passou de 6.014 casos em 1986 para 34.889 em 1996, obtendo um aumento de 480% crescendo também o número de acidentes de trabalho a partir de 1992 6.

    Nos anos que compreenderam 95 e 98 iniciou-se a preocupação com o remanejamento e reintegração do funcionário afastado por lesões ostemusculares. Como não se tinha o que fazer com esses funcionários e o custo que eles emanavam às empresas era alto, começaram a encaminhar esses trabalhadores para a Previdência Social.

    Com o número altíssimo de trabalhadores com distúrbios relacionados às condições de Ergonomia e a baixa probabilidade de recuperação a previdência foi levada a mudar o enfoque enquanto seguradora6,7. Assim a Previdência passou a devolver a responsabilidade para a empresa. Em 1999, apertando mais ainda o Ministério da Previdência Social foi editado o decreto 3048, aumentando de 27 para 200 a relação das doenças relacionadas com o trabalho6,7. Surgiu a obrigação de se emitir a Comunicação de Acidente do Trabalho (CAT) e esta uma vez emitida tem pressuposição de veracidade e predispõe a empresa para ações de indenização pelo dano.

    Em Janeiro de 2003 o Governo Federal mudou a forma de encarar a emissão da CAT em casos de doenças relacionadas ao trabalho e em dezembro deste mesmo ano editou a Instrução Normativa 98, que contém algumas mudanças importantes e a principal delas é determinar às empresas a emissão da CAT na suspeita de DORT6,7.

    Segundo, o Programa Nacional de Prevenção a DORT a doença é a segunda maior causa de afastamento do trabalho no Brasil. Até o ano de 2005 foram abertos 1,2 mil comunicados de acidente de trabalho, sem contar os trabalhadores que pleiteiam na justiça o reconhecimento do nexo causal, em milhares de ações movidas em todo o País8.

    Apesar de serem escassos os estudos epidemiológicos, a prevalência das DORT's no Brasil vem aumentando muito, denotando um maior reconhecimento das patologias musculoesqueléticas vinculadas ao trabalho e à crescente implantação de programas preventivos nas empresas9.

    Na última década nosso país presenciou uma situação epidêmica com relação aos DORT, tornando-se esta patologia a segunda maior causa de afastamento do trabalho no Brasil. Somente nos últimos 5 anos foram abertos 532.434 CATs geradas pelas DORT. A cada 100 trabalhadores da região Sudeste do Brasil, 1 é portador de DORT 9.

    Tais fenômenos começaram a mobilizar pesquisadores e empresários na tentativa de encontrar possíveis soluções para o problema e minimizar o impacto social e econômico no mercado de trabalho.

    A FISIOTERAPIA NESTE CONTEXO

    Desde 1968 a fisioterapia possui fator presencial na evolução industrial atuando na reabilitação de trabalhadores e, neste mesmo ano, o Centro de Reabilitação Profissional do Rio de Janeiro ganhou o Prêmio Internacional de Referência a Reabilitação do Trabalhador no mundo. A partir daí o crescimento foi gradativo e constante.

    Em 2008 a fisioterapia do trabalho foi reconhecida como especialidade da fisioterapia e, em 2009 o ministério do trabalho assinou a aprovação da criação do TEM 2236-60 este é o número da classificação da Fisioterapia do Trabalho na CBO (Classificação Brasileira de Ocupações) 10.

    A ergonomia vem desempenhando um papel importante na prevenção das doenças relacionadas ao trabalho, pois permite a avaliação das condições de trabalho, propostas e implementação de soluções técnicas (levando em consideração equipamentos e ambientes físicos) e administrativas, relacionadas à programação de pausas, rodízios e mudança na organização de atividades e setores. Tais medidas associadas aos conhecimentos patológicos e mecânicos funcionais do corpo humano permitem reduzir a freqüência das doenças, os custos financeiros com indenizações e o sofrimento dos trabalhadores.

    Programas de qualidade de vida vêm sendo criados com grande freqüência nas empresas a fim de atender as solicitações do mercado, sendo vendidos como atividades de prevenção das DORT's. O programa que mais tem sido divulgado no momento é a Ginástica Laboral, que vem com uma forte expectativa em relação aos empresários de ser a resposta para a prevenção dos distúrbios por sobrecarga funcional nas atividades de trabalho, o que na prática não tem sido tão eficaz quanto o esperado, não pelo fato da ferramenta não ser eficiente, mas por vezes devido a forma de utilização e a falta de acompanhamento das outras ferramentas da ergonomia.

    GINÁSTICA LABORAL X ATIVIDADE FÍSICA

    O primeiro passo para que a Ginástica Laboral seja melhor compreendia e aceita tanto pelos empregados quanto pelos empregadores é ter bem definido seus objetivos e implicadores. É significamente importante fazer a distinção entre a ginástica laboral e atividade física, pois essas duas práticas caminham paralelas, mas se diferem no que diz respeito aos objetivos, materiais e métodos.

    Muitas empresas já aderiram a incentivadores de atividades físicas, elaborando programas de prática de esportes ou atividades que levem a um dispêndio de energia e movimentação da musculatura. Essas atividades podem ocorrer dentro ou fora da empresa, conveniados com academias ou outros centros esportivos, a fim de prevenir doenças degenerativas, principalmente as doenças coronarianas, hipertensão, estresse, obesidade, melhorando a condição física e mental. Em geral, recomenda-se a prática de esportes pelo menos de duas a três vezes por semana com duração de aproximadamente uma hora 11.

    Algumas empresas utilizam palestras de conscientização sobre atividades físicas, panfletos informativos, semanas da prevenção de doenças ligadas ao sedentarismo convênios com academias, entre outros. Esses programas também fazem parte da melhora da qualidade de vida dos trabalhadores dentro e fora da empresa e seus benefícios são muito significativos. No entanto, esses programas, não têm nada a ver com a prática da Ginástica Laboral. Os programas de ginástica laboral tem como objetivo principal a prevenção de doenças ocupacionais, agindo de forma a contrabalançar a atividade muscular inerente ao trabalho. São realizados no próprio ambiente de trabalho, três vezes por semana ou diariamente por períodos que variam de 10 a 15 minutos, durante a jornada de trabalho, sendo ainda mais eficaz numa jornada de oito horas, ser realizada 2 vezes ao dia, antes de inicia o trabalho e no final da jornada.

    HISTÓRIA DA GINÁSTICA LABORAL OU CINESIOTERAPIA LABORAL

    Desde 1925, já se apresentavam a preocupação com o corpo e a mente12. Na mesma época, impulsionada pela cultura e tradição oriental, a prática de atividade física no trabalho teve seu grande enraizamento no Japão. Inicialmente eram destinadas a algumas atividades ocupacionais, mas após a Segunda Guerra Mundial foi difundida por todo o país. A grande propagação desses programas de atividades físicas na cultura japonesa é atribuída à veiculação de um programa da rádio Taissô, que envolve uma tradicional ginástica rítmica, com exercícios específicos, acompanhados por música própria13.

    Esse tipo de atividade acontece todas as manhãs, sendo transmitida pela rádio e praticada, não somente nas fábricas ou ambientes de trabalho no início do expediente, mas também nas ruas e residências. Em geral, os movimentos propostos são lentos e compassados e servem como uma preparação para as atividades diárias em casa ou no trabalho.

    Segundo Polito e Bergamaschi, no Brasil, alguns indícios da influência Japonesa mostram um pouco da evolução histórica da realização da Ginástica Laboral no país. A Federação de Rádio Taissô no Brasil coordena mais de 5.000 praticantes ligados a 30 entidades em quatro estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Mato Grosso do Sul13.

    Na década de 70, a vinda dos Japoneses ao Brasil estimularam a prática dessa atividade nas empresas, após algumas experiências isoladas no final da década de 70, houve um período em que sua prática caiu no esquecimento. Para Polito e Bergamaschi, isto pode ser atribuído à carência de resultados que servissem de base para sua disseminação.

    A partir da metade da década de 80 houve uma retoma na utilização deste método, desta vez já em forma de Ginástica Laboral. Na mesma época, em 1987, acontecia o reconhecimento da tenossinovite como doença profissional, este fato exigiu maiores medidas de enfrentamento social a cerca da ameaça das lesões, principalmente por parte do empresariado. Na mesma época, era iniciada a ênfase à qualidade de vida no trabalho. No Brasil, teve sua explosão na década de 90, sendo que inúmeras empresas passaram a introduzir em suas rotinas laborativas a execução de exercícios. Os propósitos são diversificados, mas na maioria dos casos é atribuída à prevenção de DORT.

    Sendo o objetivo cada vez mais estreito sobre as DORT's, o termo ginástica, para este fim, é um tanto quanto controverso, com algumas definições e correntes ideológicas. Já o termo Cinesioterapia denota Terapia pelo Movimento, uma forma de tratamento pelo uso do movimento e prevenção de doenças.
    Ginástica, palavra derivada do grego Gymnos que significa desnudo. Nasceu na antiga Grécia há aproximadamente 3.000 anos como um meio de integrar do corpo e a mente. Para isto, os antigos helenos criaram os ginásios, que eram o centro de toda a atividade física e cultural em cada comunidade. Na China, Índia e Pérsia também foram desenvolvidas disciplinas ginásticas como treinamento básico para os pretendentes a postos militares13.  

    O termo cinesioterapia, do grego kínesis, movimento e therapeia, terapia, de origem oriental, atualmente é a terapia mais utilizada, sendo importante por estar ligada a todas às outras formas de terapias físicas, como a Hidroterapia. É a designação dos processos terapêuticos que visam a reabilitação funcional através da realização de movimentos ativos e passivos. Tem como objetivo prevenir, eliminar ou diminuir os distúrbios do movimento e função.

    TIPOS DE PROGRAMAS DE GINÁSTICA LABORAL

    De modo geral a Ginástica Laboral (GL) é uma atividade desenvolvida dentro da empresa e consiste em exercícios específicos realizados no próprio local de trabalho e desenvolvido para cada atividade.

    Para Kooling (1980), a GL é chamada de Ginástica Laboral Compensatória (GLC), devendo atuar sobre as sinergias musculares antagônicas às que se encontram ativas durante o trabalho14. Este tipo de atividade visa proporcionar a compensação e o equilíbrio funcional, assim como também atuar com a recuperação ativa, de forma a aproveitar as pausas regulares durante a jornada de trabalho para exercitar os músculos correspondentes e relaxar os grupos musculares que estão em contração durante o trabalho, com o objetivo de prevenir a fadiga.

    Já para Targa 15 a GL Compensatória é a ginástica que tenta impedir que se instalem vícios posturais durante as atividades habituais, principalmente as do ambiente de trabalho. Utiliza exercícios que atuam sobre musculaturas pouco solicitadas e relaxam aquelas que trabalham em demasia. Segundo Dias 16, a GL é definida como Ginástica Laboral Preparatória (GLP) e visa a realização de exercícios específicos dentro do local de trabalho, atuando de forma preventiva e terapêutica.

    Para Zilli 17, pode ser classificada de acordo com o seu horário de aplicação: 1 - Preparatória ou de Aquecimento: realizada no início da jornada de trabalho, ela ativa fisiologicamente o organismo, prepara para o trabalho físico e melhora o nível de concentração e disposição, elevando a temperatura do corpo, oxigenando os tecidos e aumentando a freqüência cardíaca. 2 - Compensatória: com duração de 5 a 10 minutos durante a jornada de trabalho, sua principal finalidade é compensar todo e qualquer tipo de tensão muscular adquirido pelo uso excessivo ou inadequado das estruturas musculoligamentares.

    Tem o objetivo de melhorar a circulação com a retirada de resíduos metabólicos, modificar a postura no trabalho, reabastecer os depósitos de glicogênio e prevenir a fadiga muscular. 3 - Relaxamento: realizada no final da jornada de trabalho durante 10 ou 12 minutos, tem como objetivo a redução do estresse, alívio das tensões, redução dos índices de desavenças no trabalho e em casa, com conseqüente melhora da função social. São realizadas automassagens, exercícios respiratórios, exercícios de alongamento e flexibilidade.

    Os três tipos descritos por Zilli, são os mais utilizados nas empresas e mais divulgados em sites na internet e panfletos, prometendo vários benefícios tanto para a empresa quanto para os funcionários.

    EFICÁCIA DO PROGRAMA DE GINÁSTICA LABORAL

    É inegável a importância do desenvolvimento de exercícios no ambiente de trabalho, assim como em nossa vida, mas não da maneira como se colocam nos dias de hoje, devemos refletir sobre os resultados atribuídos somente a Ginástica Laboral.

    Para a eficácia dos programas de Ginástica Laboral, devemos separar seus objetivos e metas, bem como a forma com que o programa será aplicado e se existe a necessidade de outras ferramentas ergonômicas associadas.

    A ergonomia é uma ciência multidisciplinar que estuda a relação do homem com o seu trabalho, seu objetivo básico é a humanização e a melhoria da produtividade do sistema de trabalho. Desta forma seu objetivo principal é fornecer meios para a melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores, adaptando o trabalho às características anatômicas, fisiológicas e psicológicas dos mesmos. As intervenções ergonômicas tem se mostrado bastante efetivas no que se diz respeito a redução da incidência e recidiva das DORT's18.

    A ginástica laboral quando bem orientada, pode contribuir com a ergonomia reduzindo as dores, fadiga, monotonia, estresse, acidentes e doenças ocupacionais dos trabalhadores.

    A literatura sobre a medicina do esporte, indica que esportes que envolvem atividades de natureza repetitiva ou que envolvem esforço (tais como o tênis e o baseball) estão relacionados ao aparecimento de afecções no sistema músculo-esquelético, ao invés de sua prevenção11. Complementam sua afirmação dizendo que é interessante notar que nas atividades esportivas profissionais os jogadores fazem um número maior de pausas para recuperação e a duração das tarefas intensas é bem menor do que ocorre nos locais de trabalho tradicionais, onde os trabalhadores devem realizar trabalhos repetitivos e cansativos por períodos de 8 horas durante 5 ou 6 dias na semana. Isso nos faz acreditar ainda mais que se faz necessário uma intervenção no trabalho desses empregados e que os benefícios por mais que não sejam estatisticamente contabilizados existem.

    Segundo Pegado, algumas empresas experimentam resultados frustrantes em seus programas de exercícios porque os orientadores do programa não estavam preparados para conduzir e administrar adequadamente a ginástica laboral, porém, não faz distinção entre o uso de facilitador ou professor de educação física20.

    De acordo com Pinto e Souza (2004), segundo estudos realizados, a ginástica laboral adaptada para as necessidades impostas pelo tipo de trabalho, realizada sem sair do posto, em breves períodos de tempo, ao longo de todo o dia de trabalho, pode produzir resultados positivos para o empregado e o empregador 21.

    Estudos realizados por Ranney em 2000 evidenciaram que os esforços e posturas contraídas estáticas têm sido associados as algias, fadiga e distúrbios musculares. Mesmo em situações de baixas cargas, como aquelas sobre os ombros, na atividade em frente a um terminal de vídeo, a postura estática pode levar à dor e lesão22.

    Podemos pensar então que momentos de pausas deverão ocorrer durante o período de trabalho, no intuito de uma recuperação da fadiga em que o organismos está sendo submetido.

    De acordo com Couto, no ambiente de trabalho a pausa passiva é caracterizada quando o trabalhador interrompe suas atividades laborais e simplesmente descansa, sem acelerar a metabolização ou a excreção dos resíduos metabólicos. Já a pausa ativa representa um "repouso ativo" que ocorre com a utilização de exercícios físicos ativando a circulação sanguínea, diminuindo a concentração do ácido lático, promovendo reequilíbrio metabólico, na melhoria da oxigenação dos tecidos, na eliminação de substratos, na ativação de outras estruturas osteomusculoligamentares (alongamento e relaxamento das fibras musculares, melhora da viscosidade e lubrificação dos tendões) dentre outros aspectos importantes para a compensação psicofisiológica, como o relaxamento psicológico, diminuição da tensão/estresse, melhora do inter-relacionamento pessoal 23.

    Segundo estudos distintos de Carvalho et al (2005), Simões e Baruffi (2002) e Militão (2001), todos apresentaram efeitos positivos sobre a qualidade de vida dos trabalhadores e diminuição da fadiga muscular 22.

    O fato do insucesso da GL, em algumas empresas talvez não esteja somente ligada ao despreparo dos orientadores ou a incapacidade da própria atividade de chegar ao objetivo desejado, mas sim a falta de um olhar adequado a real necessidade do trabalhador e de seu posto de trabalho.

    GINÁSTICA LABORAL UMA FERRAMENTA DE PESO PARA A MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA

    O corpo humano precisa estar em total equilíbrio para que o indivíduo desenvolva suas atividades diárias de forma adequada. Para isso se faz necessário estar gozando de saúde física, mental, psíquica e emocional. Não só no trabalho como em casa, devemos buscar estar bem com o nosso corpo e mente, procurando realizar atividades físicas, ter boas noites de sono além de uma alimentação saudável e balanceada.

    Havendo excesso ou carência de alguns fatores que influenciam os sistemas físicos, mentais e emocional, vão acarretar em um desequilíbrio da máquina humana.

    De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) a saúde pode ser comprometida por alguns fatores dentre eles; agentes agressivos também chamados de fatores de risco como ruídos, temperatura, mobiliário, iluminação não adequada; deficiência de fatores ambientais, falta de atividade muscular, falta de comunicação com outras pessoas, falta de diversificação em tarefas de trabalho e principalmente ausência de desafios intelectuais 24.

    Durante uma jornada de trabalho o corpo humano é submetido a uma diversidade de influenciadores como, pesos, posicionamentos, calor, frio, mudanças de altitudes, atenção, monotonia, estresse entre outros, que levam a uma desarmonia tanto do corpo quanto da mente.

    Baseado em COUTO, os músculos são nutridos principalmente durante seu relaxamento, sendo que na contração muscular dinâmica deixa momentaneamente de receber aporte sangüíneo, mas a partir do momento que relaxa e se alonga recebe o afluxo de sangue novamente.  Já na contração isométrica ou estática na qual o músculo permanece contraído deixando de receber seu aporte sanguíneo onde os processos metabólicos passam a ocorrer por via anaeróbica tendo a produção e acúmulo de ácido lático que leva a irritação e dor nas terminações nervosas 25,26.

    Quando impomos ao organismo situações que fogem do equilíbrio ou quando sobrecarregamos de certa forma as estruturas do corpo, criamos conseqüências á máquina humana.  No processo de trabalho podemos encontrar diversas situações que interferem na fisiologia da máquina humana, dentre elas, fadiga, monotonia, perturbações climáticas, iluminação inadequada, estresse e ruído.

    Segundo COUTO, todas as situações de esforço estático ou isométrico, tem como conseqüência primária a fadiga muscular, onde ocorre dor no segmento afetado devido ao acúmulo do ácido lático, essa fadiga pode ainda acarretar em aparecimento de tremores que podem contribuir para a ocorrência de erros na execução das atividades 25,26.

    Para GRANDJEAN 27, além da pura fadiga muscular existem sete outras formas, fadiga gerada pela exigência visual, fadiga provocada pela exigência física de todo o organismo (fadiga corporal geral), fadiga do trabalho mental, fadiga produzida pela exigência exclusiva das funções psicomotoras (fadiga da destreza ou nervosa), fadiga gerada pela monotonia do trabalho ou do ambiente, fadiga por somatório da influencias fadigantes prolongadas (fadiga crônica), fadiga circadiana ou nictemérica, gerada pelo ritmo biológico do ciclo de dia e noite, que se instala periodicamente e conduz o sono. Uma vez instalada alguma destas fadigas o indivíduo pode apresentar, sonolência, lassidão e falta de disposição para o trabalho, dificuldades para pensar, diminuição da atenção, lentidão e amortecimento das percepções, diminuição da força de vontade, perdas de produtividade em atividades físicas e mentais.

    Conforme GRANDJEAN 27, tarefas repetitivas e monótonas estão relacionadas com a baixa satisfação com o trabalho do que com trabalhos com um espaço de atividades mais amplo. O limitado espaço de manobra das operações repetitivas pode levar o indivíduo a atrofia mental e física dos órgãos, monotonia, risco de falhas e acidentes, diminuição da satisfação no trabalho, prejuízo no desdobramento das capacidades humanas e absenteísmo elevado, crescentes dificuldades para preenchimento de vagas.

    Segundo COUTO 25,26 ,todas as situações de esforço estático ou isométrico, tem como conseqüência primária a fadiga muscular, onde ocorre dor no segmento afetado devido ao acúmulo do ácido lático, essa fadiga pode ainda acarretar em aparecimento de tremores que podem contribuir para a ocorrência de erros na execução das atividades.

    Esses fatores fisiológicos sobre o corpo, são os que mais contribuem para as DORT's, por esta razão exercícios de alongamentos direcionados durante 15 minutos realizados duas vezes para cada turno se tornam grandes aliados ao combate das doenças mais comuns do trabalho, pelo fato de melhorar a nutrição e oxigenação dos tecidos, reposicionar as estruturas do corpo, sair da monotonia, tirar o foco do estresse momentaneamente, diminui a exaustão causada pelo estresse e pelo trabalho contínuo, diminui o sedentarismo e estimula a procura por atividades físicas, melhora a atenção no trabalho, diminui o nível de acidentes melhorando o estado geral.

    Couto 25,26 , enfatiza a importância da pausa para o organismo humano. Dentre os mecanismos que previnem as lesões, através da realização de pausas em atividades repetitivas, podemos destacar que:

    • O fluxo de sangue normal retira as concentrações acumuladas de ácido lático muscular, evitando assim possíveis irritações nas terminações nervosas livres;
    • Os tendões retornam às suas estruturas normais, voltando a sua formação normal (viscoelasticidade e conformação); e
    • A lubrificação dos tendões pelo líquido sinovial, evitando atrito interestrutural.

    A influência benéfica da atividade física sobre a dimensão emocional da qualidade de vida segundo Silva (1999), se dá sob múltiplos aspectos, especialmente os efeitos nocivos do estresse e o melhor gerenciamento das tensões próprias do viver 17.

    A população brasileira de um modo geral, por falta de estímulos, crescem adquirindo vícios dos mais diversos e deixando de lado a preocupação com a saúde, pois na maioria das vezes os efeitos não são sentidos imediatamente, só retornam a preocupação em relação a saúde e qualidade de vida na terceira idade, onde os problemas já se instalaram no decorrer dos anos, nossa intenção enquanto promotores de qualidade de vida é mudar essa percepção em relação a nós mesmos e contribuir para o estado de saúde geral do trabalhador.

    Segundo os conhecimentos relacionados a fisiologia humana, quando um individuo é imposto a trabalhos de grande estresse e atenção, ou pouco raciocínio e mais mecanização levando a um trabalho monótono, ou imposto a grandes esforços físicos, calor excessivo, frio excessivo, luminosidade alta ou baixa demais, posturas inadequadas, vai levar a um desgaste da máquina humana o que provavelmente irá gerar em desequilíbrio e futuros problemas tanto físicos quanto psicológicos.

    Deve-se entender portanto que a Ginástica laboral, quanto a seus objetivos de melhorar a nutrição e oxigenação dos tecidos, reposicionar as estruturas do corpo, sair da monotonia, tirar o foco do estresse momentaneamente, diminui a exaustão causada pelo estresse e pelo trabalho contínuo, diminui o sedentarismo e estimula a procura por atividades físicas, melhora a atenção no trabalho, diminui o nível de acidentes melhorando o estado geral do trabalhador atende as situações impostas durante a jornada de trabalho, quando realizado da forma adequada, respeitando os momentos de pausa para a reconstituição dos tecidos. Além do fato de ser realizada adequadamente, não podemos esquecer que estamos lidando com pessoas que pensam e sentem e que para ser benéfica ao homem deve ser levado em consideração a sua vontade, sem situações que imponham ou causem constrangimentos.

    EFEITOS SOBRE AS EMPRESAS

    A mudança dos fatores de mudança social no Brasil em relação as condições ergonômicas acabam caindo sobre os empresários e com isso a dificuldade e o ônus com administração das DORT's, a implantação da ginástica laboral acaba sendo o meio mais rápido, prático e menos custoso de dar inicio a solução dos problemas relacionados as lesões osteomusculares relacionadas ao trabalho 11.

    Através da implantação da Ginástica Laboral, a empresa se beneficia em alguns fatores já comprovados, entre eles a diminuição dos problemas de saúde do trabalhador e com isso um aumento na produtividade da empresa. Isso se dá em razão de uma diminuição das faltas por motivos médicos e também a redução dos acidentes de trabalho.

    O trabalhador também recebe benefícios, pois grande parte dos exercícios que são executados durante a terapia, visam reduzir o impacto e o estresse muscular que o indivíduo sofre durante sua jornada de trabalho17. Isto significa que não só trabalhadores "braçais" ou funcionários da linha de produção necessitam da Ginástica Laboral, mas também trabalhadores administrativos (digitadores, secretárias, etc.) e externos (motorista, vendedores, entregadores, etc.). Estes tipos de trabalho (administrativo, produção e/ou externo) trazem sérios problemas posturais, musculares, memtais e visuais. Um programa de Ginástica Laboral visa minimizar as lesões ósteomusculares e ergonômicas causadas por estas atividades.

    Na prática podemos observar a melhor integração entre os funcionários, na maioria das vezes melhor disposição para desenvolver as atividades laborais e um melhor clima organizacional no ambiente de trabalho, além da satisfação do funcionário em relação à empresa.

    A ginástica laboral assumiu definitivamente o papel de ferramenta contra ações cíveis (trabalhistas) para os empresários, retirando o dolo e culpa da empresa nessas reclamações. A implantação do programa prova perante à lei que a empresa se preocupa com a saúde e qualidade de vida do seu colaborador. Porém, não há até o momento nada que se refira a ginástica laboral como uma exigência legal na prevenção das DORT's, portanto como ela esta inserida dentro de uma medida ergonômica, e a ergonomia esta inserida como exigência legal, podemos levar em consideração que seja uma medida paliativa. Por esta razão talvez a relação da GL como ferramenta contra as ações cíveis.

    CONCLUSÃO

    Os vários estudos revisados, apontam as reais necessidades de uma intervenção no ambiente de trabalho e melhora da qualidade de vida dos trabalhadores. A evolução do homem tem contribuído para o sedentarismo aumentando assim os problemas relacionados a saúde o que acaba refletindo no ambiente de trabalho.

    A Ergonomia entrou nessa briga para estudar, atuar, eliminar ou minimizar os problemas que estivessem relacionados a saúde do trabalhador e vem sendo muito eficaz no que se diz respeito aos seus objetivos.

    De acordo com a prática dentro das empresas, diversos profissionais vem se especializando para contribuir com os trabalhos ergonômicos e o bem estar entre trabalhadores e empresa.

    Com a atuação dos Fisioterapeutas nesse mercado as influências da cinesioterapia, terapia pelo movimento, uma forma de tratamento pelo uso do movimento e prevenção de doenças e pelo próprio conhecimento aprofundado em fisiologia do movimento e biomecânica, o fisioterapeuta do trabalho vem se destacado nessa área.

    Observamos que na prática empresarial o termo Ginástica Laboral "vende mais", toda empresa quer uma "Ginástica Laboral", talvez o termo mais apropriado fosse cinesioterapia laboral, visto que o propósito de prevenção e reabilitação se dá através de conhecimentos cinesioterapêuticos, conhecimento este do fisioterapeuta.

    Porém segundo as correntes "mercadológicas", a Cinesioterapia Laboral seria uma forma focada no tratamento e controle da DORT, tornando o ato privativo aos fisioterapeutas, no entanto, na visão dos educadores físicos a Ginástica Laboral seria privativa deles, pois como vimos o educador físico é o profissional capacitado para ministrar as aulas com os objetivos a que elas se remetem em cumprir.

    Atualmente na prática do mercado os dois termos são utilizados, não há uma forma legal que restrinja o uso dos termos para uma das profissões, embora exista uma certa disputa por parte dos conselhos de fisioterapia e de educação física, para estabelecer quem esteja melhor capacitado para assumir os objetivos que a atividade proposta se impõem, e está sim deveria ser a real preocupação para que não permitamos que uma ferramenta tão útil para a ergonomia perca o seu devido valor.

    A luta pela prevenção e tratamento das afecções do trabalho deve ser continua, dinâmica e perseverante, pois é fato que as posturas mudam a forma de trabalho propriamente dito, diferente do trabalhos descrito, mudam o tempo todo, o ser humano cai na rotina e o interesse se transforma. Não é possível fazer o mesmo trabalho sempre e achar que ele será a salvação dos problemas.

    A ginástica laboral quando bem orientada, pode contribuir com a ergonomia reduzindo as dores, fadiga, monotonia, estresse, acidentes e doenças ocupacionais dos trabalhadores.

    Se faz importante salientar que a ginástica laboral, não é somente um produto de venda, se trata de uma ferramenta de intervenção ergonômica e faz parte de um projeto de qualidade de vida do trabalhador, sendo seus objetivos voltados à saúde do trabalhador. Não devemos permitir que se torne, apenas um produto de venda e deixando-a banalizada e ineficaz devido ao seu uso inadequado.

    Para que não caia na ineficiência, é necessário compreender e estabelecer todo um projeto de intervenção (a curto, médio e longo prazo) na qualidade de vida dos trabalhadores participantes. Deste modo, a GL compões uma das ações efetivas dentro dos programas de qualidade de vida, não devendo esquecer também os outros fatores que contribuem para a saúde do trabalhador.

    Diante das evidências encontradas na literatura e mediante o crescimento da difusão da GL no Brasil, percebemos suas qualidades e o quanto ainda precisa ser explorada para que seja cada vez mais eficaz no que se propõe e que os profissionais fazem uso dessa ferramenta a tratem cada vez com mais seriedade e conhecimento.

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    Autor(es): Danielle Nogueira de Carvalho
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